domingo, 3 de abril de 2011

     No mês de março comecei oficialmente o meu doutorado... agora começo a escrever nesse blog! Depois de meses construindo um projeto sobre Morrissey, da dúvida que pairava acerca da aceitação desse projeto, da ansiedade da entrevista em que defenderia e justificaria a escolha do meu objeto de estudo, das mazelas que todo o processo seletivo impõe, finalmente posso dizer que estou feliz. Os “perrengues” burocráticos que enfrentei após a seleção, prefiro nem comentar. A mim me alegra a ótima nota do meu projeto e, apesar de uma certa desconfiança, a aceitação de um objeto de estudo tão rico e... tão desconhecido do público (acadêmico) baiano!

     Sinto que, apesar da nota, apesar da aprovação, apesar da aceitação, a minha escolha está longe de ser unanimidade e que serei bastante questionada por isso. Não me importo. Não gosto das coisas fáceis. Na verdade, me acostumei com as coisas difíceis ou aprendi a gostar delas... “How I love all of the complicated things of life!”



    Com o início do semestre letivo, comecei a pensar na minha tese e me ocorreu a ideia de criar esse blog. Nesses posts, não quero – e nem espero que esperem isso de mim – começar a construir uma tese de fato. Pelo contrário. O movimento que pretendo fazer aqui é inverso: escrever informalmente sobre o assunto, sem qualquer pretensão acadêmica, sem nenhuma preocupação formal (e isso inclui o uso de uma linguagem mais relaxada e despreocupada), para evitar que o meu assunto preferido acabe por se tornar mero objeto de análise científica e perca a sua aura.

    O meu objetivo tampouco é colher contribuições de possíveis leitores para servir de material futuramente. Se essas contribuições acontecerem, serão muito bem-vindas. No entanto, a minha intenção pode ser configurada muito mais como um exercício de catarse. Sei que poucas pessoas vão ler ou se interessar pelo que escrevo aqui, afinal, quem diabos vai querer saber das inquietações de alguém que escreve uma tese de doutorado em Letras – na UFBA – sobre Morrissey? Porém, publicá-las e saber que alguém pode lê-las já coloca em prática o desejado exercício catártico.

     Não sou cínica e nem ingênua de pensar que a minha escrita aqui é independente e não tem relação nenhuma com a escrita científica que iniciarei em breve. Não fosse a “responsa” de iniciar o doutorado e a tomada de consciência de que, enfim, vou estudar o cara a quem devo a minha entrada nos estudos literários, eu não estaria me ocupando de escrever sobre isso. Pretendo mesmo iniciar a reflexão sobre o tema e sei que, direta ou indiretamente, essas reflexões informais vão me ajudar a entrar no clima e a pensar em como direcionarei o meu trabalho. Além de tudo isso, sinto um pouco de frio na barriga e certo receio... Será que a pesquisadora vai interferir na forma como eu, enquanto fã, ouço as suas músicas, analiso as suas letras, interferindo, para sempre, na minha relação com Morrissey??? Ainda tem a preocupação de apresentar Morrissey à academia! Acho que essas preocupações e receios são absolutamente naturais, mas, recorrendo ao próprio Moz: “Why should I mind?, Why should I care?”

     Sinceramente, não acredito que o que eu penso sobre ele ou o que o seu trabalho representa para mim sofra qualquer alteração. Até porque essa relação (!) se estende há mais de 20 anos e jamais sofreu abalos! Sempre teorizei e gosto de teorizar sobre as coisas e, ao longo de todo esse tempo, criei as minhas próprias teorias sobre Morrissey, ainda que sem muita base, digamos, científica. Se finalmente eu consegui organizar um projeto de doutorado sobre Morrissey e consegui fazer com que ele fosse aceito na universidade, eu não devia estar muito preocupada. Acredito mesmo que a minha experiência como ouvinte só trará contribuições ao olhar científico e, como adoro teorizar sobre tudo, nada pode ser mais prazeroso do que teorizar sobre uma obra que acompanho há tanto tempo, que me apresentou a grandes nomes da literatura e que definiu a minha escolha profissional anos atrás... Definitivamente posso dizer que Morrissey está, e sempre esteve, ao meu lado!

6 comentários:

  1. Adorei a iniciativa! O texto está delicioso!! Muita sorte e muita inspiração para realizar esse trabalho !!! Beijos!!

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  2. Sempre bela!
    Sempre inteligente!
    Sempre maravilhosa!
    Você, Renatinha, é inspiração pura!!!
    Parabéns!

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  3. Renata, achei excelente o teu tema e é muito bom ler as experiências de background sobre uma tese, ainda mais com esse tema que me agrada (falo aqui tanto como pesquisadora da cultura pop como fã). Tua reflexão é muito pertinente sobre as relações entre ser fã e ser pesquisador ao mesmo tempo. Meus parabéns, consigo ter pelo menos um pouco, a dimensão do que tu passaste p/ aprovar um projeto sobre esse tema tão pouco estudado no BR, ainda mais no Brasil. Já és vencedora por isso. Grande abraço.
    PS - se quiser conversar mais, passei por coisas muito semelhantes pois no meu mestrado estudei U2 e no doutorado ficção-científica, entao tu podes imaginar o que passei

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  4. Adriana, você não imagina como os seus trabalhos me ajudaram quando comecei a construir este projeto! Quando postei um comentário em seu blog, nem imaginava que você era A Adriana Amaral dos artigos sobre o U2 que tanto me inspiraram! Quero muito conversar e trocar experiências! Será de grande valor para mim essa interlocução! Um beijo e obrigada!

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  5. Oi, Renata. Cheguei aqui através do blog da Adriana (que tb me ajudou muito na monografia com seus artigos). Recentemente defendi minha monografia sobre fãs dos Backstreet Boys. A questão do pesquisador-insider e os conflitos que surgem de ser fã do nosso objeto de estudo é uma das questões que eu abordei no projeto.

    Me identifiquei muito com o que você desse nesse e no outro post. Claro que as pressões sobre uma monografia não se comparam com as de uma tese mas eu, assim como você, me cobro muito. No meu caso o apoio da minha orientadora foi fundamental.

    Vou visitar o blog sempre e estou curiosa para ver o andamento da sua pesquisa.

    Beijos e boa sorte!

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  6. Oi, Patrícia! Desculpe a demora em responder! Isso tudo por causa o meu corre-corre aqui! Legal saber que vc defendeu monografia sobre fãs!
    Eu também vou trabalhar nessa perspectiva e vou te perturbar pedindo referências com certeza!!!!

    Um beijo e obrigada pela visita!

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