segunda-feira, 31 de outubro de 2011

England, here we come

     Qualquer visitante deste blog terá a impressão de que ele está abandonado dado o tempo desde a última publicação. Não que eu tenha desistido da minha proposta. Não desisti. Ao contrário, o motivo desse hiato desde o meu último post é exatamente a falta de tempo já que inúmeras coisas aconteceram – e estão acontecendo – na minha vida. A primeira delas foi uma viagem pela Inglaterra para seguir a Morrissey UK Summer tour. Sim, fui atrás do Moz em sua terra natal e, por muita falta de sorte, não fiquei cara a cara com o Homem!
     Durante a análise do meu projeto, fui surpreendida por uma pergunta despretensiosa, feita por simples curiosidade, mas que mudou a minha vida: - Você conhece a Inglaterra? Não demorei muito para transformar esta pergunta em outra que, para mim, soava muito mais grave: você já esteve em um show do Morrissey? A resposta seria devastadora: - Não!
     Ao longo dos meus 23 anos de dedicação à sua música, jamais tive a oportunidade de estar num show do Morrissey. Sempre fui uma fã dedicada, mas, digamos assim, sem muitos recursos financeiros. Sem eufemismos, sempre fui uma fã pobre. Não tive grana nem para sair de Salvador – ninguém pode imaginar a tristeza que me toma ao dizer isso – para ir aos seus únicos shows no Brasil em 2000. Além disso, uma viagem para a Inglaterra sempre esteve na minha agenda, porém, nunca tive dinheiro necessário para o intento. No entanto, agora as coisas eram um pouco diferentes. Eu, casada, sem filhos, trabalhando na Universidade, podia – com algum esforço, claro – bancar uma viagem para Inglaterra para fazer algumas pesquisas sobre Morrissey. Poderia haver momento mais oportuno do que agendar essa viagem para o mesmo período em que ele iniciaria uma turnê pelo país? A minha chance tinha chegado! Compramos os ingressos, reservamos os hotéis, compramos passagens e, no dia 22/06/11, embarcávamos eu e o meu hubby: Strangeways, here we come!
     Foi uma viagem divertidíssima e super cansativa, eu tenho que admitir: tentar vivenciar, em apenas 16 dias, várias situações que envolvessem Morrissey e The Smiths, conhecer os lugares que são referência na história da banda e do próprio Moz, assistir aos seus shows e, ainda, conhecer um pouco da Inglaterra. É claro que não consegui fazer tudo o que eu havia programado e uma segunda viagem já está nos planos. A intenção agora é ficar pelo menos seis meses e com bolsa sanduíche, de preferência! Mas isso eu só posso planejar para 2013 pois não foi apenas o sonho de estar num lugar tão importante musicalmente – e a oportunidade de vivenciar a experiência mais emocionante da minha vida ao, finalmente, ver o Morrissey de tão pertinho – que eu consegui realizar durante essa viagem; ao retornar ao Brasil outro desejo se tornou realidade: estava grávida! Será que esbarrei em alguma lâmpada mágica e três pedidos me foram concedidos sem que eu sequer me desse conta?
     Enfim, são muitas novidades para atualizar em um único post. Aos poucos descreverei a minha experiência em terras britânicas e a emoção pura de, finalmente, após anos de dedicação fiel e incondicional a Morrissey, estar num show Dele. “I'm so glad to grow older and move away from those darker years...”

domingo, 1 de maio de 2011

E a tese começa a se delinear...

     Tive a minha primeira reunião de orientação na última quinta-feira. Confesso que estava bem nervosa pois seria o meu primeiro encontro com a minha orientadora. Não nos conhecíamos. Nosso primeiro contato foi no dia da entrevista, quando da seleção para o programa, e depois disso trocarmos alguns e-mails. Eu estava tensa pois, como sempre acontece quando releio algum texto meu, tinha encontrado vários defeitos no projeto. Excesso ou ausência de vírgulas, alguns termos equivocados, informações ausentes, enfim, para mim, que sou superexigente comigo mesma, aquele texto não me parecia tão bom quanto na época em que eu o escrevi... Eu tenho essa mania. Não gosto de ler nada que eu escrevi depois de muito tempo, pois quero sempre corrigir ou refazer o texto. Sempre acho que poderia ficar melhor. Desde que defendi a minha dissertação de mestrado, jamais tornei a lê-la. Deus me livre da paranoia que esse exercício de leitura desencadearia! Já pensou querer reescrever mais de 200 páginas?!? Enfim, tenho essa mania de querer sempre melhorar, aperfeiçoar o que eu faço... Mania estranha para alguém que diz acreditar que a perfeição não existe.
      Mas, voltando ao encontro de orientação, a tensão que sentia antes da reunião começar foi imediatamente substituída por uma alegria imensa quando começamos a conversar sobre a tese. Além da empatia que rolou, senti a empolgação da minha orientadora com o trabalho. Pela primeira vez, desde que decidi levar Morrissey para academia, senti uma segurança imensa e não tive dúvidas de que esta foi uma decisão acertada! Conversamos muito, ouvimos Morrissey e, depois de alguns ajustes, vi a minha tese se construíndo bem ali! Saí da reunião me sentindo como uma criança que finalmente ganhou o presente que tanto desejava. Acho que ainda faltava, para mim, essa espécie de aprovação. A aprovação na seleção não tinha sido suficiente. Precisava desse apoio que só poderia vir de alguém que vai iniciar essa travessia comigo! Nada melhor, para um doutorando, do que sentir essa cumplicidade com o orientador! Finalmente, depois de tudo, me senti realmente segura.
      Comecei, então, a trabalhar. A lista de tarefas é enorme! Começo a desconfiar que o interesse e a empolgação do orientador com o trabalho dos orientandos é sinônimo de trabalho triplicado! Pesquisas e mais pesquisas, reorganização de projeto, aumento de bibliografia, o que significa gastar dinheiro e ler muuuuuuuito. A leitura não me incomoda nem um pouco, o assunto da pesquisa não é nenhum sacrifício, mas o dinheiro é que pesa... Para as coisas ficarem melhores, só precisava da minha bolsa! Mas esse é um tópico à parte.
     Durante as pesquisas que comecei a fazer esta semana, cheguei ao blog da Professora Doutora Adriana Amaral através de um post intitulado “Morrissey Studies”. Fiquei super empolgada, comentei sobre o meu trabalho e descobri uma interlocutora que, sem que eu me desse conta, já vinha me ajudando antes mesmo de eu descobrir o seu blog. Quando comecei a escrever o meu projeto, li muitos artigos da Adriana e eles me ajudaram muito a pensar nessa interlocução música massiva e academia. Ela fez novo post comentando o meu blog, tuitou sobre isso e comentou aqui também. Fiquei muito feliz e percebi que eu estava completamente errada quando achei que esse blog seria um mero exercício de catarse e que não deveria esperar contribuições. Não é que as contribuições já começaram a acontecer? A internet é mesmo uma ferramenta maravilhosa!
      Enquanto aguardo a esperada bolsa e começo a colher as primeiras contribuições à pesquisa, corro contra o tempo pois tenho um prazo apertadíssimo para entregar tudo o que a minha orientadora pediu. Não pensem que é fácil a vida de quem escreve tese sobre Morrissey!

domingo, 3 de abril de 2011

     No mês de março comecei oficialmente o meu doutorado... agora começo a escrever nesse blog! Depois de meses construindo um projeto sobre Morrissey, da dúvida que pairava acerca da aceitação desse projeto, da ansiedade da entrevista em que defenderia e justificaria a escolha do meu objeto de estudo, das mazelas que todo o processo seletivo impõe, finalmente posso dizer que estou feliz. Os “perrengues” burocráticos que enfrentei após a seleção, prefiro nem comentar. A mim me alegra a ótima nota do meu projeto e, apesar de uma certa desconfiança, a aceitação de um objeto de estudo tão rico e... tão desconhecido do público (acadêmico) baiano!

     Sinto que, apesar da nota, apesar da aprovação, apesar da aceitação, a minha escolha está longe de ser unanimidade e que serei bastante questionada por isso. Não me importo. Não gosto das coisas fáceis. Na verdade, me acostumei com as coisas difíceis ou aprendi a gostar delas... “How I love all of the complicated things of life!”



    Com o início do semestre letivo, comecei a pensar na minha tese e me ocorreu a ideia de criar esse blog. Nesses posts, não quero – e nem espero que esperem isso de mim – começar a construir uma tese de fato. Pelo contrário. O movimento que pretendo fazer aqui é inverso: escrever informalmente sobre o assunto, sem qualquer pretensão acadêmica, sem nenhuma preocupação formal (e isso inclui o uso de uma linguagem mais relaxada e despreocupada), para evitar que o meu assunto preferido acabe por se tornar mero objeto de análise científica e perca a sua aura.

    O meu objetivo tampouco é colher contribuições de possíveis leitores para servir de material futuramente. Se essas contribuições acontecerem, serão muito bem-vindas. No entanto, a minha intenção pode ser configurada muito mais como um exercício de catarse. Sei que poucas pessoas vão ler ou se interessar pelo que escrevo aqui, afinal, quem diabos vai querer saber das inquietações de alguém que escreve uma tese de doutorado em Letras – na UFBA – sobre Morrissey? Porém, publicá-las e saber que alguém pode lê-las já coloca em prática o desejado exercício catártico.

     Não sou cínica e nem ingênua de pensar que a minha escrita aqui é independente e não tem relação nenhuma com a escrita científica que iniciarei em breve. Não fosse a “responsa” de iniciar o doutorado e a tomada de consciência de que, enfim, vou estudar o cara a quem devo a minha entrada nos estudos literários, eu não estaria me ocupando de escrever sobre isso. Pretendo mesmo iniciar a reflexão sobre o tema e sei que, direta ou indiretamente, essas reflexões informais vão me ajudar a entrar no clima e a pensar em como direcionarei o meu trabalho. Além de tudo isso, sinto um pouco de frio na barriga e certo receio... Será que a pesquisadora vai interferir na forma como eu, enquanto fã, ouço as suas músicas, analiso as suas letras, interferindo, para sempre, na minha relação com Morrissey??? Ainda tem a preocupação de apresentar Morrissey à academia! Acho que essas preocupações e receios são absolutamente naturais, mas, recorrendo ao próprio Moz: “Why should I mind?, Why should I care?”

     Sinceramente, não acredito que o que eu penso sobre ele ou o que o seu trabalho representa para mim sofra qualquer alteração. Até porque essa relação (!) se estende há mais de 20 anos e jamais sofreu abalos! Sempre teorizei e gosto de teorizar sobre as coisas e, ao longo de todo esse tempo, criei as minhas próprias teorias sobre Morrissey, ainda que sem muita base, digamos, científica. Se finalmente eu consegui organizar um projeto de doutorado sobre Morrissey e consegui fazer com que ele fosse aceito na universidade, eu não devia estar muito preocupada. Acredito mesmo que a minha experiência como ouvinte só trará contribuições ao olhar científico e, como adoro teorizar sobre tudo, nada pode ser mais prazeroso do que teorizar sobre uma obra que acompanho há tanto tempo, que me apresentou a grandes nomes da literatura e que definiu a minha escolha profissional anos atrás... Definitivamente posso dizer que Morrissey está, e sempre esteve, ao meu lado!